domingo, 25 de abril de 2010

À Paulo Mendes Campos


O amor começa. Em qualquer esquina, a qualquer segundo, em qualquer teatro ou cafeteria, o amor começa. Começa num piscar de olhos, num toque de mãos à beira da hesitação; o amor pode se revelar num cheiro, numa música, numa dança. O amor começa num cinema, aos passos de um filme qualquer, entre beijos trocados, línguas entrelaçadas, incansáveis e excitadas, na penumbra de uma estória.

E o amor, ao começar, se transforma. O amor, no Rio, vira matéria de jornal. Em São Paulo, vira uma peça. Na Itália, o amor vira tarantella. Em Hollywood, cinema. Em Paris, vira romance. Em Brasília, o amor vira concreto. No interior, o amor vira fofoca. Em Recife, vira sotaque. E o amor que é amor vira e revira em sexo.

E assim o é em qualquer lugar. Em Brasília, o amor começa na esplanada, se perdura por debaixo dos prédios, entre quadras, na fumaça de cigarros, ou ao soar das comerciais. No hemisfério norte, o amor começa no esquentar do inverno. No hemisfério sul, o amor começa no pular de um carnaval. No Japão, o amor começa num olhar mais puxado. Mas em qualquer lugar do mundo, o amor começa de urgente, e para sempre

(...)Mesmo que um dia acabe.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Angenor de Oliveira. - Cartola


No desespero do final d’um começo,
Fecho as portas atrás de mim:
Exponho-me ao banimento.

Exilo-me no jardim
De flores sob o firmamento.
Há angústia nos jasmins.
Em mim, uma aflição de momento.

Extraio da cochonilha, carmim.
Escrevo de vermelho naquele leito.
No desgosto, vejo assim
Um sentir jogado ao vento.

Pergunto às rosas o que faço.
Um jardineiro, à rir, me aparece.
Engravatado e terno branco,
Rindo feito palhaço,
“As Rosas Não Falam;
Já vi que não as conhece”

Disse-me, as rosas riem de laços
Pois são sábias do amor,
Já perderam tantos pedaços
E sofreram de tanto dor.

Formulou algumas frases mais:
- Digo-lhe, meu caro, as rosas talvez falem por reais.
- Mas tudo aqui tem um preço?
- As moedas são só diversão.
- E o que faz uma moeda?
- Cara ou coroa, ou futebol de dedão.
- O mundo virou moedeiro!
- O mundo virou um puteiro!
- O mundo não tem mais carinho!
- O Mundo é um Moinho!

Paro e me ponho a perceber,
Que o mundo, repentinamente, começa a girar.
E se podia isso ver,
Talvez com ele pudesse rodar.

O jardineiro me sorriu:
- O que farás agora ?
- O que devo fazer ?
- Disfarça e Chora.
- Antes morrer.

- Afogue suas mágoas no álcool!
- Mas sinto meu Peito Vazio!
- Consuma-se então nesse vácuo.
- Ainda não achei esse caminho!

Ouve algum barulho
E o jardineiro, assustado:
- Que barulho é esse logo ao leste?
- É o Silêncio do Cipreste.
- Tua Tristeza Não Tem Fim?
- Felicidade Sim.

Tiro minha Cartola ao jardineiro,
O qual colhia as rosas, as letras, o samba,
as trovas, as poesias e o enredo.

Que lá plantava as músicas,
Com sementes de amor,
Como nunca se viu.

Que me plantava respostas dúbias,
e colhia a minha dor,
D'alguém que partiu.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A m o r

O imóvel,
Correndo por entre meus braços,
E mãos, e corpos vastos:
Parado.

Ouvinte e atento,
O inerte,
Pedala e excede,
Dando-me calafrios:
Arrepio.


O imutável,
Exausto e cansado,
Pelo tanto que já me moveu.
E comoveu.

O ocioso,
Tão rápido e teimoso,
Vício malicioso.
...Gostoso.

O inalterável,
Prazer imensurável,
Sensível a cada carícia.
...Delícia.

O impertubável,
Ego exacerbado,
Tão assim admirado.
Mimado.

O imóvel,
De tanto que correu,
Exausto e cansado,

C

A

I

U

E-m`absorveu.

domingo, 4 de abril de 2010

Versos Ritmados

Eu te faria uma releitura,
Para melhor te compreender.
Conheço-te pouco a loucura,
Entendo além do prazer.

Escrevi-nos em partitura,
Nos achares e no perder.
Contradigo-me em ódio e ternura,
Só para não mentir pra você.