sábado, 27 de novembro de 2010

'Eleanor Rigby'

Meus olhos de fatiga, olhos-vira-lata, morimbundos, vagando nos devaneios de minha visão. Meu verbo era o particípio passado, a memória já tragada pelo pensamento. Minhas palavras eram o silêncio. Minha dor era o pretérito, e também o era a minha preocupação. O que viria a ser, o que ainda não houve, o que ainda deve ser pensado - isto não fazia parte de mim. Atravesso a rua. Milhares de carros perambulam em rapidez. As faíscas luminosas dos faróis me arrebatam os olhos como luvas que buscam dor e suor. Perto a mim, um homem de meia-idade, que tocava um violino junto 'a parada, em busca de um trocado para passar a noite.

-All these lonely people - where do they all come from?

De minha casa, tinha passado para buscar dinheiro. Não havia. O meu carro estava quebrado. Sem transporte. Andei até a parada em busca de uma gratuita passagem. Não Circulavam os grandes. Olhei para a tela do celular. O violino começava a me lacrimejar. A chuva me aquecia o corpo. Pensei em ligar para minha irmã - lembro de quando nos falávamos por horas penduradas, nos gostávamos e nos compartilhávamos, e assim o foi até a sagrada instituição familiar nos apartar. Pensei em ligar para os meus pais - não falava com eles desde que saí de casa, obrigada a sair de casa por escolher gostar das coisas que gosto. Pensei em ligar pros amigos - e percebi que não os tinha. E foi então que, apesar de sempre sê-lo, percebi o quanto eu era sozinha. Resolvi, já após dez anos, não inventar a tua presença para me confortar. E comecei a pensar para onde poderia ir.

-All these lonely people - where do they all belong ?

Lugar algum. Não havia propriamente um lugar pra ir - a exaustão passou a me rodear como decorativo. A melancolia passou e me vestir como derradeiro figurino. Não era dia, nem era noite. Era chuva somente, tempestade a qual secava aquela sede que nem mais sentia. Olho a minha volta.

-Ah, look at all the lonely people...

Perambulando num mesmo espaço, caio. E não chego a me levantar. O homem que tocava violino ia-se esvaindo, como se estivesse para finalizar. Fecho os olhos.

-Ah, look at all us lonely...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O arrepio

Contornou-me numa súbita insônia, riscou-me os dedos da mão, um a um, como se os admirasse a forma e desenhou o meu corpo com as pontas de seus dedos, com um veneno de riça. Rascunhava-me lentamente, pesando sobre o meu corpo. Meus olhos desabrocharam em sonolência, fechei minhas pálpebras em meio 'a hesitação, e parei por um momento.

Todo espaço possui sua transição, assim como todo tempo possui o seu vagar. Aquele tempo e espaço se aconchegaram 'a minha espera, e eu passeei por outro sítio, em outros ponteiros. Minha boca entreaberta, a única existência ali era o percorrer de sua tenra mão, que se espaçava por todo o meu corpo - nuca, dorso, seios, cabelos, lábios e pálpebras.

Quando lentamente abri os meus olhos-adejo , mirava abaixo, meus pés descalços, eu, nua como vinda ao mundo, desflorei o silêncio de meu estar, num agudo efêmero e fugaz, grito incontido, ao tremejar de meu corpo, gozo inconsciente.

Foi então que eu percebi que já não sabia qual espaço era real e qual ponteiro era certeiro. E, por fim, nem mesmo sabia distinguir o simples sentir da esvoaçada loucura.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Manhãs Vadias

Ao escutar algumas destas tuas palavras, me veio em mente o meu rotineiro cotidiano infantil, no qual a terra úmida curava a febre de meus pés que, doentios de euforia, corriam por entre as modorras, fugindo de minhas obrigações cotidianas, em busca de um poço de sombra, ao peso dos troncos silenciosos daquela fazenda. O tempo, versátil e volátil, brincava comigo em minhas manhãs que, vadias, pareciam passar em um piscar de olhos, levadas pelos ventos do sul em meio 'a minha desatenção sonâmbula. Apressava o meu passo para encontrar-te, sempre deitada no mesmo espaço sombrio, em fuga do sol, com os seios infantis voltados para o céu, os olhos fechados e os ouvidos aguçados, atentando o meu respirar. Prolongava-me ali, ao teu lado, segurava a terra junto a ti, como se fôssemos um só corpo e nem mesmo entendêssemos. Silenciaríamos ao som dos pássaros a cantar o nosso amor ainda ingênuo.

E me veio rapidamente esta memória, como um piscar, como um lapso em meio ao teu discurso. Te olho, neste momento, com os olhos cheios de lágrimas, a soluçar angústias, enquanto o pequeno te chama no quarto ao lado. Tuas palavras vociferadas de cólera, o telefone jogado na parede, a irritação que culmina com as tuas palavras - estou esperando mais um filho seu.

Eu gosto de crianças, eu choraria, riria, amaria esta notícia em qualquer outro instante. Sem entender a razão, apreendi o meu vôo fugaz dos cílios, e então me veio este sopro na memória, como uma epifania, de que talvez eu preferisse nosso amor quando a gente ainda não o sabia.

domingo, 17 de outubro de 2010

Versos d´Insônia

Tuas páginas de abandono
redondilham-me a pálpebra.
Sinceras palavras,
Epifania.

Tergiverso meus anseios,
busco a fuga em contigentes.
Diferentes continentes.
Mas hesito.

Lágrimas, talvez,
me vëm como amantes pálidas,
Flácidas sensações,
Olhar velado.

Ceguísticas vistas
me propõem uma imagem -
Distorcida e apagada,
Ao teu lado.

Proponho-me solidão,
lentidão em amargo,
remete-me o silêncio
Extravasado.

E na angústia da madrugada,
Tua languidez vem em sono.
Amor adormecido -
Sonâmbulo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Carta à Ninguém

Aqui estou eu, mais uma vez, a jogar letras em um pedaço de papel que nem mesmo tem destinatário, apesar de ser destinado à você. O relógio sussurra ininterruptamente em meus ouvidos. Decido calá-lo. E calo também o tempo, que parece sempre querer me atrasar. A vida aqui corre mais do que no nosso Brasil. Talvez sejam os ventos ingleses que, neste outono, choram em minhas janelas em rapidez, levando consigo folhas secas. Folhas secas que me remetem à ti. Lembro de como era um de teus vícios - folhas secas, cigarros e o som de estouro daquelas bolhas de ar de pequenos sacos plásticos que viriam em novos móveis. O outono também me agrada. Consigo andar pelos campos perto de minha casa, observar as flores a desvestir-se à nudez do inverno. E fecho os olhos para que me venha a tua imagem em mente. E suspiro.

Te penso a cada segundo, e se eu contasse os segundos que possivelmente faltam para que nos vejamos novamente, chegaria à conclusão de que morreria antes de ver-te - definharia de amor. Sinto falta de tua invenção estatística, de teus cantos no chuveiro, de tuas palavras sentimentais, e do coentro que só você sabe o ponto, que acompanhava o filé, que só você acertava o meu gosto, ainda que vegetariana.

E cá estou eu, do outro lado do mundo, sem saber se te ligo e te digo tudo que me enlaça a garganta, num grito contido, e chego a m'enduvidar se deveria te mandar cartas respondendo as tuas. Elas vêm sempre, dia sim, dia não, com aqueles enhances artísticos pensados somente por ti. Queria bem te responder. Mandar abraços aos nossos filhos. Seria muita hipocrisia. Não quero que sofras por mim. Nem mesmo sei se voltarei. Não quero que entendas meus sentimentos. 'O exército te mudou muito', você sempre disse, e não acho que você tenha que entendar minhas mudanças. Eu ainda tento entendê-las. E quanto mais me penso, quanto mais me entendo, mais eu percebo o quanto eu não sou eu. Ao menos ainda me resta o teu amor. O nosso amor.

Espero que esteja bem. E, de fato, imagino nossa casa como uma floricultura, plena de rosas vítimas dos teus charmes rodados. E sei que, apesar das cartas que mandas trivialmente, estás a te deleitar com homens tantos, e a se conhecer com mulheres várias. E gosto de pensá-lo.

A nossa distância é o silêncio, que um dia expressou a nossa intimidade. Pensei em medí-la, não em metros, mas em palavras e súplicas. No entanto, contar caracteres me deprimiria tanto que preferi não fazê-lo. E aqui sento eu, em frente a uma máquina de escrever antiga, e imagino-te perto a mim, dizendo o quanto sou ultrapassado. O corriqueiro whisky ao meu lado. Penso na hipótese de poder voltar ao meu lar. De poder voltar à você.

Não posso te escrever. Se eu te escrever, entenda, apenas anteciparia minha morte. Pensar-te, por enquanto, me basta. Pensar-te e amar-te.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Comodismo

Nesta tarde de domingo, não há como lembrar de nada senão de nossos domingos, nos quais nos trancávamos em nossa casa, nós dois isolados do mundo, como se não o suportássemos. Você cozinhava algum prato do dia, que normalmente já acordava com a ideia de fazer. Cada domingo, você acordava com vontade de um país diferente. Deitávamos no nosso sofá, com taças de vinho, Miles Davis nos acompanhava, e no final da tarde, algum filme - que eu pedia enfadonhamente para que você não o locupletasse de críticas. Era o dia que mais gostava da semana. Nos domingos, me fugia aquele desejo imoderado de querer sempre fazer algo produtivo, mania que trouxe da América. Aliás, acho que o que mais sinto falta da gente é os domingos, os quais me parecem agora acesos de solidão. Não sei o que aconteceu conosco. Diziam alguns que o comodismo viria com os anos de casamento, mas sempre fomos contra, dizíamos que seríamos excessão matrimonial. Quando nos conhecemos, nós dois extravasando ideais revolucionários, você com seus discursos que transbordavam vermelhidão, e eu ainda meio perdida, mas com uma vontade imensurável de querer mudar o mundo. Não cansávamos de beijos, de romantismos, de passionidades. Hoje, a sua bandeira vermelha foi trocada por um discurso neoliberal, as suas palavras de amor silenciadas pela descrença. Você diria que amadurecemos. Eu diria que nos acomodamos - nos ideais e no amor.

É o cotidiano, talvez , que nos esfriou. Esqueci, no entanto, o nosso passado cotidiano. Não lembro bem o que nos passava durante todos estes anos. Fugiram-me à memória as nossas vontades, contadas no sofá de nossa sala - devem ter sido tragadas pela lareira que nos aquecia nos invernos. E mal me lembro de memórias, engolidas por fotografias reveladas, algum dia olhadas, e hoje jogados no galpão.

Em meu esquecimento, lembro-te, ao menos, em carne, que me era, antes, trêmula, e hoje me remete apenas o conforto.

E, quem sabe - apesar de minhas frustrações -, não é o comodismo melhor do que o amor.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Ausência

Era um fim de tarde brando e a brisa se deparava levemente contra a minha janela, fomentando uma tenra sensação de frio. O sol se esvanescia e os azuis do céu manavam em diferentes tonalidades, alaranjados, esverdeados, róseas. Ao passo que os meus olhos se deparavam com aquela desavinda chuva de cores, a esperada penumbra portava-me uma costumeira crise. Faltava-me o costumeiro álcool e o costumeiro cigarro, porém - o que levou-me então, a m'afundar aos poucos. Joguei-me na cama, olhos pesados de exaustão, corpo nu de figurinos, rostos desvestidos de maquilagem. Eu, nítida e genuína.

Foi aí então que me senti vazia.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Paulistana

Estes teus sussurros fazem-me
querer cruzar o Ipiranga,
Jogar-me pela Rebouças,
Caindo pelos Jardins.

Estes teus relances, em meio
a rebocos de minha vida,
fazem-me querer respirar teus olhos,
cair no perfume de teu beijo.

Esqueço-me de tua constante ausência
-versos, e gozos, e súplica.
À teu dorso, sinto-te essência:
teus silêncios preenchem minha música.

Restares

Tragava sua dor como um vício que, apesar de oferecer escolha, esbanja unicidade. Em sua realidade morta, quedava-se deitada, olhares ao teto, às paredes, olhares fechados, abertos. Piscares. Passares do tempo. Não sabia mais do que gostava. Lembrava-se de alguns pequenos gostares, apenas. Alguns pequenos prazeres. O barulho de folhas secas quando tocadas, melindradas pesadamente, ou apenas melodiosamente estreitadas com o solo. Ah, sim, gostava também do som do violino, fino, agudo e brando o suficiente para subir-lhe os cabelos do braço - isso! Gostava do arrepio, sim, como gostava daquele ar que se passava timidamente e quase que inesperado pela sua nuca, pelo seu ouvido. Palavras de amor. Gostava destas, quando sussurradas em seu ouvido, de imprevisto. Improviso! Iria atrás de olhares inéditos, de pessoas repentinas; gostava que sua vida se parecesse uma poesia, nada parnasiana, mas mal-acabada, meio que às pressas, ainda que avassaladora.

Silêncio. O jazz que costumava deixar na vitrola foi trocado por Piazzola - horas a fio de um tango que parecia lhe ilustrar a vida - , e posteriormente deixado de lado pelo silêncio. Não se lembrava de como tinha se tornado tão amarga. Talvez teria sido a bebida, que já substituiu a sua alimentação. Bebia para que os outros a esquecessem. E há tempos não comia. Secava-se de fome. No início de seu jejum, definhava-se em sofrimento, desaguava-se em vazios, acabava-se em doses de vodka.

Mas, ainda neste início, apesar de extenuada de ausências e morta de fome, ainda se alimentava de romances. No entanto, agora restavam-lhe apenas memórias.

[Murcha] [Decaída] [Desvigorada]

E os piscares.

domingo, 12 de setembro de 2010

Concreto Livre


Era uma cidade concreta e moderna - ou pelo menos era esta a pretensão. Impecáveis matemáticas eram a base de suas ideias arquitetônicas. Poder-se-ia dizer que cada candango inventava a sua própria catedral simbólica, em suas ambições, crenças e desejos. Considerava-me um candango, e é até engraçado dizê-lo. Vim à cidade em busca de uma nova vida. Como caminhoneiro, em meus apenas vinte anos, já conhecia o Brasil de cima à baixo, mas já pensava em quetar-me e quedar-me em um lugar.

Lembro-me especificamente bem de quando conheci Estella. Foi na inauguração da cidade. Na esplanada, bandas de rock ilustravam a modernidade. O céu de Brasília era promissor, e assim também eram as pessoas que ali inventavam uma cidade. Juscelino fazia seu discurso e eu, próximo a ele, fitava aquela multidão de candangos e políticos, até meus olhos encontrarem os dela. Tinha os cabelos desgrenhados, lábios cheios e olhos nordestinos. Era filha de alguém importante, isso eu podia dizer a primeira vista. Prendi aos olhos dela os meus, tornaram-se desimportantes as palavras de Juscelino, o sonho de Lúcio Costa e as belezas de Oscar Niemayer. Não me lembro o tempo que nos olhamos, pode ter sido alguns segundos ou horas a fio, mas foi tempo o suficiente para que passasse na minha cabeça a preocupação de com que dinheiro eu lhe compraria o anel.

Lágrimas Marítimas

De volta ao navio. Mais uma vez, arrumo as malas - que já se tornaram o meu armário -, estudo a rota e encaminho-me ao porto. A vida que aqui construí parece-me uma estória ilusória de navegação, parte de minha profissão. Sigo pelo oceano, antes em rios caudalosos, meus soluços como vítimas de lágrimas marítimas, Os mapas já decorados de tanto fitá-los, Percebo que passei a colecionar vidas como coleciono estrelas, em suas diferentes constelações em que as vejo nas diversas imensidões oceânicas em que já me vi.

Penso em, talvez, retornar. O carinho que criei. A família que fiz. Os sonhos que inventei em meio a suspiros apaixonados. Melhor recomeçar - é mais saudável, disso já sei. Enxugo o meu rosto e, ao lavar minhas mãos nestes mares, deixo minhas memórias ao pacífico.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Pedaços de solidão noturnos à Nassar

Dormíamos em quartos separados, éramos como esses casais modernos, que prezam pelo espaço e não seguem as tradições. Fazíamos já quarenta anos de casados, alguns nos olhavam com admiração, diziam o quanto nos devíamos amar. Acho que eu compartilhava dessa ilusão, de que de fato nos amávamos.

Esta noite, acordou-me em meu sono e, como sonâmbula, abriu minha porta sem nem bater - o que não era de costume -, com sua camisola descorada e um olhar que, apesar de não conseguir vê-lo na penumbra, presumia sê-lo taciturno. Quedou-se ali, em pé e em silêncio, como quem está a poucos passos de desmoronar - e eu cheguei a pensar que ela o faria, cairia em prantos, com estrondo. E eu também não ousei proferir uma palavra. Chegou perto a mim, deitou-se ao meu lado, e eu pretendi costumice, virei pro outro lado, como se o hábito percorresse a madrugada.

Ela levantou-se e foi ao canto do quarto. O seu estancamento tornou-se inquietação, e ela passou a perambular em um espaço mínimo. Roía suas unhas, mexia-se com os pés e cambiava suas expressões com veracidade. Chegou perto à minha cabeceira, e apanhou um dos meus blocos de anotações, nos quais eu guardava meus textos e poesias, e ela nunca ousava abrí-los sem que eu pedisse para que opinasse. Colheu, também, uma caneta que sempre deixava ao lado destes. Abriu a primeira página, na qual permeava uma poesia antiga que ali se detia como memória. Fitou-a com desdém e escreveu por cima, com letras garranchadas e despreocupadas, como um grito de súplica sonâmbulo:


- Pra onde foi o nosso amor ?

domingo, 1 de agosto de 2010

Romance com Clarice*

* Que sorriso você tinha. Combinava com os teus olhos, que fitavam veementemente e sentiam varonilmente. Você era todo aprumada, toda encantadora, olhares artísticos e palavras meio roucas. Lábios silentes, cílios expressivos, e um andar que te denunciava. Eu amava os teus fios de cabelo ruivos, finos e curtos que, apesar da pequenez, você insistia em prendê-los para trás. Para dizer a verdade, nos vimos poucas vezes - por esbarros ou coincidências-, mas eu tinha vontade de lhe falar a todo momento: Vamos nos casar, vamos nos casar numa vila pequena na Índia, ou na Turquia, que ninguém saiba, que ninguém veja, e fiquemos só nós dois, um com o outro - é fácil conseguirmos ficar juntos quando não há o mundo entorno para palpitar. Vamos nos casar em algum lugar pequeno e secreto da cidade grande.

Mas você não creeria. Ou simplesmente não quereria. Na tua mudez plena de palavras, também te compreendia pouco. A verdade é que você fazia questão de que ninguém te compreendesse. Insistias: - Não se preocupe em me entender. Me viver vai aquém de qualquer entendimento. - Mas você era várias, você era tantas, uma quase-todos, uma quase-tudo. E eu sabia, eu tinha certeza de que eras um mistério pra ti mesma.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Passa, trem, passa.


Era tempo de guerra - essa era uma expressão corriqueira no nosso país. As guerras eram intraregionais, todas entre diferentes etnias sul-africanas, e desde que nasci, trinta anos atrás, vivi somente seis meses de paz declarada. Tinha já seis filhos, um deles pequeno o bastante para ainda ser carregado como canguru. Eu o amarrava em minhas costas e o carregava para os trilhos comigo. Ali havia uma enorme concentração de pessoas, esperando para que o trem parasse, e pegássemos algumas reservas de comida. Alguns consideravam aquilo roubo, mas não havia outro modo de conseguirmos comida. Meu filho mais novo ainda não tinha cabelos, assim como eu não mais os tinha, e era de pele negra. Traços bonitos tem o seu filho, falavam alguns fotógrafos que diziam fazer um trabalho social ali pelas nossas terras.

Eram seis horas da manhã, e eu me preparava pra ir aos trilhos. Levantei-me e lavei-me com a água disponível - a qual. há alguns meses, vieram uns homens dizer que estava poluída e a gente não devia beber. Acordei o pequeno, amarrei este em minhas costas e saí em direção aos trilhos para tentar comida. Eu sentia dor, sentia frio, sentia fome e sentia cansaço. Esperava o trem, ele não passava. Sentei-me nos trilhos. Senti um pouco de aflição - o que não era costume, pela exaustão de pensar ou sentir. Chorei uma lágrima de tormento. Passa, trem. Senti vontade de revoltar-me; não conseguia, porém, levantar a voz. Passa logo, trem, passa.. Senti, enfim, um pouco de repugno por mim mesma, por não conseguir me dar - e aos meus filhos - uma vida minimamente digna.

Passa trem. Que vida, passa. Passa, trem. Que, dessa vez, ao invés d'eu te roubar os alimentos, lhe darei um pulo de surpresa e exaustão, e lhe concederei uma vida e meia.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Amor Silente

Perguntava-me baixinho - Me amas ? - E eu respondia - Amo mais do que eu achava possível - E ela dizia - então diga a todos.

Mas importava-me somente que ela soubesse. Restava-me, então, perguntar-lhe - Tu sabes ? - Ela respondia que sim. E eu retrucava - Eu sei e você sabe. O amor é nosso. Pros outros é silente; é serene; é secreto.

No momento de minhas falas, ela olhava como quem gostasse. Agradavam-lhe os meus romantismos, as minhas frases improvisadas de amor. Mas logo depois voltava com a mesma história, queria que eu formalizasse o nosso amor. Queria uma palavra : namoro, casamento, qualquer palavra que selasse.

Revirei-me. Mudei meu modo de agir. Trazia-lhe flores, palavras, cartas. Dediquei-lhe tangos. Cantei-lhe choros. Escrevi-lhe poesias. Deixei de deixar minhas palavras como fantasmas. Abri-me a ela. E lhe amei de todos os modos que pude, fiz tudo que me era cabível, dei-lhe o mundo e todo o amor que me restava.

Mas ela recusou. Bastava-lhe apenas uma prova, mesmo que falsa. Não lhe importava tanto o amor, isso eu só pude perceber depois. Bastava-lhe que o mundo soubesse.

Depoimento-ficção d'um preso- Inspiré de Truffaut


Não, não, eu não nasci em berço. Nem me lembro, não senhora, de ter sido bem-tratado. Perdi minha mãe aos nove anos, e meu pai nos abandonou. Minha tia me acolheu, e já me pôs a trabalhar. Nunca reclamei, nem mesmo considerava errado. Só acho que gostaria de, talvez, viver o mundo de um outro modo, assim, quando eu via os meninos das casas que eu limpava fazendo outras coisas que não trabalhar. Às vezes queria só isso: conseguir enxergar quão bonito era um beijo, quão bela era uma pessoa, ou quão significativo era um olhar. O tempo não me permitia. Era trabalho, trabalho, trabalho, que nem poderia ser considerado trabalho infantil. Nem acho plausível considerar que tive uma infância. Pode escrever isso aí, na sua caderneta, psicóloga. Posso te chamar assim ? Psicóloga é que nem professora, né, que a gente chama de professora mesmo, ao invés de chamar por nome. Tá bom, certo, como eu preferir.

Foi então, um dia, que resolvi pegar algo emprestado. Eu tava limpando o quarto de um menino, que tinha lá os seus treze anos, enquanto eu beirava os meus quinze. Ele tinha uma máquina fotográfica - não era profissional, e o seu preço era ínfimo em comparação à fortuna que ele possuía. Enquanto arrumava a sua cama, olhei de relance a câmera. Vi se tinha alguém em casa. E resolvi provar. Encostei-lhe os dedos. Ligou. Aparecia naquela pequenina tela a imagem que me estava em frente. Apertei o botão de cima. Flash. E foi naquele momento que tirei a minha primeira foto. Não era uma máquina profissional, mas aquela imagem era linda. As cores eram quase naturais, e de alguma forma, via-se naquela precisão do momento pausado uma beleza imensurável.

Eu ? Não, não, psicóloga. Não ousaria olhar suas pernas. Não que não sejam bonitas, tenho certeza que são. Mas seria muito desrespeito. Percebi, apenas, que a senhora as cruzou.

Tá certo, voltando ao acontecido, eu não roubei-lhe. Apenas peguei emprestado. Sem pedir, sim, mas sabia que se eu pedisse, não me emprestaria. Tirei fotos tantas. Tirei fotos de pessoas, de beijos, de momentos, de teatros, de lugares - Esplanada, Museu Nacional, as tesourinhas, a rodoviária. Brasília tem uma beleza que podia ser capturada a qualquer momento, em qualquer lugar. Era tudo tão concreto, tão bonito. Devolveria na semana seguinte aquela máquina.

E quando a fui devolver, não havia percebido que o menino - dono do quarto, da máquina, de tudo - me observava, me seguia. E me apontava logo quando eu a deixava em sua cabeceira - MÃE, MÃE, ELE ROUBOU A MINHA MÁQUINA! - E chorava feito um bebê. Esperniava. Sua mãe chocou-se. Mandou-me ao juízado de menores, entende ? Daí foi que cheguei aqui. Acho que todo mundo daqui tem que visitar a senhora, né psicóloga ? Pois eu queria só lhe pedir...

- Acabou o seu tempo, pode se retirar.

Depoimento do preso 33 à psicóloga 22, juízado de menores.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tua presença

E ao entrar em minha casa, sozinho, fechei a porta atrás de mim e, em poucos segundos, deixei-me nu. Sem calças ou calçados, restava-me apenas aquele relógio que eu não ousava tirar - talvez por dó ou por solidão. Liguei a vitrola, que vibrava com a voz de Aretha Franklin, acompanhada de um sax que puxava-me os pêlos da nuca. Sempre fui assim, muito sensível ao não-toque. Mas não era isso que eu queria hoje.
Entrei em meu quarto e liguei a televisão. Deitei-me na cama, a escutar aquelas vozes tantas, Notícias de hoje, Garotinho se lança a deputado federal - puta que o pariu -, Naomi pode depor contra ex-presidente - quem diabos é Naomi -, presos deixam de comer para doar alimentos - que digno. Desligo a televisão. Notícias suficientemente inúteis para o dia. O telefone toca. Deixo tocar. Bip. Pedro, me liga, tô precisando falar com você urgentemente. Bip. Meu bem, vamos combinar mais vezes de ir ao teatro, sinto falta de nossas programações culturais. Bip. Quero sexo, e aí?

Bip.

Essa noite, verei "La dolce vita".
E não será sozinho, pois, quando necessário, continuo inventando a tua presença.

sábado, 26 de junho de 2010

Réquiem - De Mozart á Carrasco


Poeticamente,
Caía-se e
se levantava.
Chorava e
se lastimava:
Vertia lágrimas.

Teatrificamente,
Pendia-se em
cólera e
arrebatava-se
em ira:
Desenlaçava-se
a vida.

Vibrava d´amores,
Enternecia-se em sexo,
Inteirava-se em rezas.
Vivia.
Ou apenas deixava
de morrer.

Alimentava-se
de agudos.
E regurgitava
palavras
orquestrais:
Desvairava-se
em sentireza.

E, desesperada,
arrebatada e
agonizada,
confrontava-se
com o solo,
com Deus e,
no silêncio
de preces,
me arrancava
as lágrimas que,
durante toda a vida,
eu deixei
de chorar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Platônica Mente

Não me lembro tão claramente de como me apaixonei. Lembro somente de olhares que te jogava durante nossas aulas, e que iludia-me a pensar que retribuías. Trocamos algumas palavras, disses que tinha certeza que eu cantava; eu ri, contido e envermelhado, e disse que não tinha a mesma certeza. Nesse dia, passei a achar que me gostavas. Falei pra ir ver-me algum dia, a tocar.

Fostes.

Deve ter sido nesse dia. Ao musicar, te cantava, e tu m'encantavas. Olhava-te, sozinha na mesa, ao dançar com as mãos e com o cigarro, que fumavas paulatinamente. Eras tão suave que chegavas a ser melodiosa. Nesse dia, sim, foi nesse dia que entendi o quanto te queria por perto. Foi nesse dia que sentou junto a ti um rapaz, que provava a acariciar tuas mãos e te decifrar com os olhos. Ah, sim, e foi nesse dia que, ao entender teus lábios e teus charmes, decidi quanto melhor seria te amar platonicamente.

Nãoentender

Mesitei. Meu corpo, a princípio, não me soube dar resposta: ali estava eu, estática. Fitei-me, lavei-me, deitei-me. E só quando acordei que percebi o peso que estava emcostado a mim. Era amor aquilo ? Era dependência ? Carência, talvez ? Chorei-me de manso.

Estava tão sozinha que só havia um consolo próprio, que consumava-se pelo sono. Não há maior mediocridade do que o sentimento fingido. Mediocridade no sentido abstrato, aliteral, pois não é sentimento comum. Sentimento comum é bonito, nalma, inteligível, apesar de compreensível.

Fiz de ti um retrato que não existe. Tão vistoso em minha concepção. Fiz de teus defeitos paradoxos de tantas cores, e exprimi em teu contorno as suas palavras simplórias: que, em minha atroz paixão, tornei-lhes complexas de simplicidade. Você, que sempre criticou minhas artísticas mentiras, fez-se de si uma. Mas, há pouco, soube violar um pouco de ti em acordes dissonantes. Criei você como se expôs, ao final (que final?), a mim - incômodo.

Saí de casa ( ) de malas e de sentimentos. Deixei a você as sobras do que chamávamos lar. Não sabia bem o que sentia, se é que sentia. Na verdade, o sentimento todo que me impregnava era de desentimento. E eu mal entendia o que era isso, mas trazia-me um alívio incrustado de angústia.

Pus-me então a enfrasear palavras, ritmando-lhes em desversos livres. Eu não entendia, nem me entendia, mas propus-me a poetizar toda aquela in?com!preens?ão. Foi aí que percebi o quão não entender é profundo...

e passei dias nãoentendendo.

Neologismos

[ Sentir é um fato, e por isso vítima de tantos neologismos. Todo fato é imediato. E, para algo imediato, há sempre uma palavra na ponta da língua. Palavra errônea, precipitada, ou inexistente e, tanto por isso, exata. Não há palavra melhor do que palavra inventada.

Se pensares bem, toda palavra já foi um dia um neologismo, logo quando nasceu. Imagino as palavras jogando papo pro ar, "Sinto tanta falta de quando era neologismo. Tão bonita eu era. Tão formosa, pomposa. Tão inédita. Todos me olhavam encantados, esperando alguma surpresa de meu significado". De fato, o neologismo, farto de ingenuidade, poetiza sem querer, e, em sua simplicidade e clareza, pode deixar até os críticos de literatura maravilhados - e olha que esses são difíceis de se agradar.

Há dias -como os de hoje- em que sinto tanto que não adianta eu tentar escrever com palavras pré-inventadas: preciso dos neologismos.]

terça-feira, 15 de junho de 2010

Aulas Déxpressão


Procuro aulas de interpretação,
De olhares, bocas, e corpos,
De lábios, falas e olhos:
Procuro aulas d’expressão.

Procuro alguém que me fale,
O que diz um olhar mais fechado,
Um olhar mais aberto; uma piscadela,
Uma lágrima que cái vazia, de lado.

Não sei se me flertam, se me simpatizam,
Ou se me odeiam, que coisa horrível.
Não sei se se apaixonam, ou só brincam.
Preciso de aulas, o mais rápido possível.

Mas se nessas aulas eu tudo aprender,
Desde olhares à vontade e o querer,
A graça, então, se perde ao tocar.
E a expressão perde todo o sentido.
Pra que foi feito um olhar,
Senão pra ser incompreendido ?
(ou subentendido)

Poesias jogadas em cadernos de oitava série.
Pedro Pinho e Paola Lappicy

terça-feira, 8 de junho de 2010

Faux Intimité

Escondes, discretas e ressoantes:
eram carícias de romance já secreto.
Olhares, ainda que próximos, distantes.
A hipérbole dava-lhes o tom poético.

Encostavam-se os pés e os sexos
Em movimentos de efêmera perenidade,
Envoltos nos lençóis de afagos e beijos,
Cobertos d'uma falsa intimidade.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Poço de Velharias

Provei a incursionar, mais uma vez, num sono já dormido e relembrado. Tornei ao pó rudimentar e passei a enxergar, a um olhar meio empoeirado, um poço de tantas velharias. Encontrei uma moca, daquelas italianas que usávamos pra fazer o café, um violão, algumas canetas e tantas cartas já envelhecidas com letras borradas - não sei se de lágrimas ou do tempo. Sacudi mais a cachola e achei, inundado pelas águas daquele poço, Klimt que adornava as paredes, teus óculos antigos, pesantes, ferrujados, enegrecidos, mas tão bonitos, que lhe engrandeciam os olhos. E por fim, lá estava, uma fotografia já quase rasgada pela Efemeridade - nunca por mim seria -, que restaurei às devidas velhas fôrmas. Era tão gostoso aquele nosso cotidiano...

domingo, 25 de abril de 2010

À Paulo Mendes Campos


O amor começa. Em qualquer esquina, a qualquer segundo, em qualquer teatro ou cafeteria, o amor começa. Começa num piscar de olhos, num toque de mãos à beira da hesitação; o amor pode se revelar num cheiro, numa música, numa dança. O amor começa num cinema, aos passos de um filme qualquer, entre beijos trocados, línguas entrelaçadas, incansáveis e excitadas, na penumbra de uma estória.

E o amor, ao começar, se transforma. O amor, no Rio, vira matéria de jornal. Em São Paulo, vira uma peça. Na Itália, o amor vira tarantella. Em Hollywood, cinema. Em Paris, vira romance. Em Brasília, o amor vira concreto. No interior, o amor vira fofoca. Em Recife, vira sotaque. E o amor que é amor vira e revira em sexo.

E assim o é em qualquer lugar. Em Brasília, o amor começa na esplanada, se perdura por debaixo dos prédios, entre quadras, na fumaça de cigarros, ou ao soar das comerciais. No hemisfério norte, o amor começa no esquentar do inverno. No hemisfério sul, o amor começa no pular de um carnaval. No Japão, o amor começa num olhar mais puxado. Mas em qualquer lugar do mundo, o amor começa de urgente, e para sempre

(...)Mesmo que um dia acabe.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Angenor de Oliveira. - Cartola


No desespero do final d’um começo,
Fecho as portas atrás de mim:
Exponho-me ao banimento.

Exilo-me no jardim
De flores sob o firmamento.
Há angústia nos jasmins.
Em mim, uma aflição de momento.

Extraio da cochonilha, carmim.
Escrevo de vermelho naquele leito.
No desgosto, vejo assim
Um sentir jogado ao vento.

Pergunto às rosas o que faço.
Um jardineiro, à rir, me aparece.
Engravatado e terno branco,
Rindo feito palhaço,
“As Rosas Não Falam;
Já vi que não as conhece”

Disse-me, as rosas riem de laços
Pois são sábias do amor,
Já perderam tantos pedaços
E sofreram de tanto dor.

Formulou algumas frases mais:
- Digo-lhe, meu caro, as rosas talvez falem por reais.
- Mas tudo aqui tem um preço?
- As moedas são só diversão.
- E o que faz uma moeda?
- Cara ou coroa, ou futebol de dedão.
- O mundo virou moedeiro!
- O mundo virou um puteiro!
- O mundo não tem mais carinho!
- O Mundo é um Moinho!

Paro e me ponho a perceber,
Que o mundo, repentinamente, começa a girar.
E se podia isso ver,
Talvez com ele pudesse rodar.

O jardineiro me sorriu:
- O que farás agora ?
- O que devo fazer ?
- Disfarça e Chora.
- Antes morrer.

- Afogue suas mágoas no álcool!
- Mas sinto meu Peito Vazio!
- Consuma-se então nesse vácuo.
- Ainda não achei esse caminho!

Ouve algum barulho
E o jardineiro, assustado:
- Que barulho é esse logo ao leste?
- É o Silêncio do Cipreste.
- Tua Tristeza Não Tem Fim?
- Felicidade Sim.

Tiro minha Cartola ao jardineiro,
O qual colhia as rosas, as letras, o samba,
as trovas, as poesias e o enredo.

Que lá plantava as músicas,
Com sementes de amor,
Como nunca se viu.

Que me plantava respostas dúbias,
e colhia a minha dor,
D'alguém que partiu.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A m o r

O imóvel,
Correndo por entre meus braços,
E mãos, e corpos vastos:
Parado.

Ouvinte e atento,
O inerte,
Pedala e excede,
Dando-me calafrios:
Arrepio.


O imutável,
Exausto e cansado,
Pelo tanto que já me moveu.
E comoveu.

O ocioso,
Tão rápido e teimoso,
Vício malicioso.
...Gostoso.

O inalterável,
Prazer imensurável,
Sensível a cada carícia.
...Delícia.

O impertubável,
Ego exacerbado,
Tão assim admirado.
Mimado.

O imóvel,
De tanto que correu,
Exausto e cansado,

C

A

I

U

E-m`absorveu.

domingo, 4 de abril de 2010

Versos Ritmados

Eu te faria uma releitura,
Para melhor te compreender.
Conheço-te pouco a loucura,
Entendo além do prazer.

Escrevi-nos em partitura,
Nos achares e no perder.
Contradigo-me em ódio e ternura,
Só para não mentir pra você.