sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Angenor de Oliveira. - Cartola


No desespero do final d’um começo,
Fecho as portas atrás de mim:
Exponho-me ao banimento.

Exilo-me no jardim
De flores sob o firmamento.
Há angústia nos jasmins.
Em mim, uma aflição de momento.

Extraio da cochonilha, carmim.
Escrevo de vermelho naquele leito.
No desgosto, vejo assim
Um sentir jogado ao vento.

Pergunto às rosas o que faço.
Um jardineiro, à rir, me aparece.
Engravatado e terno branco,
Rindo feito palhaço,
“As Rosas Não Falam;
Já vi que não as conhece”

Disse-me, as rosas riem de laços
Pois são sábias do amor,
Já perderam tantos pedaços
E sofreram de tanto dor.

Formulou algumas frases mais:
- Digo-lhe, meu caro, as rosas talvez falem por reais.
- Mas tudo aqui tem um preço?
- As moedas são só diversão.
- E o que faz uma moeda?
- Cara ou coroa, ou futebol de dedão.
- O mundo virou moedeiro!
- O mundo virou um puteiro!
- O mundo não tem mais carinho!
- O Mundo é um Moinho!

Paro e me ponho a perceber,
Que o mundo, repentinamente, começa a girar.
E se podia isso ver,
Talvez com ele pudesse rodar.

O jardineiro me sorriu:
- O que farás agora ?
- O que devo fazer ?
- Disfarça e Chora.
- Antes morrer.

- Afogue suas mágoas no álcool!
- Mas sinto meu Peito Vazio!
- Consuma-se então nesse vácuo.
- Ainda não achei esse caminho!

Ouve algum barulho
E o jardineiro, assustado:
- Que barulho é esse logo ao leste?
- É o Silêncio do Cipreste.
- Tua Tristeza Não Tem Fim?
- Felicidade Sim.

Tiro minha Cartola ao jardineiro,
O qual colhia as rosas, as letras, o samba,
as trovas, as poesias e o enredo.

Que lá plantava as músicas,
Com sementes de amor,
Como nunca se viu.

Que me plantava respostas dúbias,
e colhia a minha dor,
D'alguém que partiu.

Um comentário:

  1. eu não li, eu escolhi um lugar limpo pra dizer pra você alguma coisa que ainda não tem formato, então que ainda não consigo dizer. é como se eu pudesse, mas eu sei que não posso

    ResponderExcluir