domingo, 1 de agosto de 2010

Romance com Clarice*

* Que sorriso você tinha. Combinava com os teus olhos, que fitavam veementemente e sentiam varonilmente. Você era todo aprumada, toda encantadora, olhares artísticos e palavras meio roucas. Lábios silentes, cílios expressivos, e um andar que te denunciava. Eu amava os teus fios de cabelo ruivos, finos e curtos que, apesar da pequenez, você insistia em prendê-los para trás. Para dizer a verdade, nos vimos poucas vezes - por esbarros ou coincidências-, mas eu tinha vontade de lhe falar a todo momento: Vamos nos casar, vamos nos casar numa vila pequena na Índia, ou na Turquia, que ninguém saiba, que ninguém veja, e fiquemos só nós dois, um com o outro - é fácil conseguirmos ficar juntos quando não há o mundo entorno para palpitar. Vamos nos casar em algum lugar pequeno e secreto da cidade grande.

Mas você não creeria. Ou simplesmente não quereria. Na tua mudez plena de palavras, também te compreendia pouco. A verdade é que você fazia questão de que ninguém te compreendesse. Insistias: - Não se preocupe em me entender. Me viver vai aquém de qualquer entendimento. - Mas você era várias, você era tantas, uma quase-todos, uma quase-tudo. E eu sabia, eu tinha certeza de que eras um mistério pra ti mesma.

3 comentários:

  1. Eu não sabia se era, ou se era muito mais corajoso que eu. Muito mais real.
    É o tipo de coisa que nunca se sabe.
    Aiai.

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  2. Porque excluiu o último texto? Tava bonito.

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  3. Mas antes de pensar assim, você pensou diferente e o publicou. É exatamente esse intervalo de tempo, o da dúvida, que considero mais interessante. Serve como um verso de poesia!
    Acho que é só isso que acho e acho que eu não deveria achar que acho algo mais. Bêjo!

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