quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O arrepio

Contornou-me numa súbita insônia, riscou-me os dedos da mão, um a um, como se os admirasse a forma e desenhou o meu corpo com as pontas de seus dedos, com um veneno de riça. Rascunhava-me lentamente, pesando sobre o meu corpo. Meus olhos desabrocharam em sonolência, fechei minhas pálpebras em meio 'a hesitação, e parei por um momento.

Todo espaço possui sua transição, assim como todo tempo possui o seu vagar. Aquele tempo e espaço se aconchegaram 'a minha espera, e eu passeei por outro sítio, em outros ponteiros. Minha boca entreaberta, a única existência ali era o percorrer de sua tenra mão, que se espaçava por todo o meu corpo - nuca, dorso, seios, cabelos, lábios e pálpebras.

Quando lentamente abri os meus olhos-adejo , mirava abaixo, meus pés descalços, eu, nua como vinda ao mundo, desflorei o silêncio de meu estar, num agudo efêmero e fugaz, grito incontido, ao tremejar de meu corpo, gozo inconsciente.

Foi então que eu percebi que já não sabia qual espaço era real e qual ponteiro era certeiro. E, por fim, nem mesmo sabia distinguir o simples sentir da esvoaçada loucura.

Um comentário:

  1. Qual é a realidade que pode nos contornar com tantos aspectos e representações em apenas dois meios complacentes do ser humano, a mente e o corpo? A percepção das emoções sempre estará além do cinismo de pessoas imaturas com pouca profundidade em sentir-se e em amar ou amar-se?

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