quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Faroeste Caboclo

Foi um dia um pouco pesado, aquele. Um pouco pesado por ser muito dia, por ser muito ele, por ser tanto forte. Cheguei lá, e pus os meus pés em terra. Terra mato, terra verde, amassada por tantas mãos. De um lado, tratores. Do outro lado, tratantes. E nós, encurralados, em canto nenhum, apenas permeando com o nosso grito pelo silêncio. Nossos passos eram a negação do pretérito, nossa fala era a expectativa do futuro do presente, e nossas ideias não tinham espaço nem cronologia, ainda estavam meio perdidas nas gramáticas correntes.

E vi ali, aqueles homens chegando, com uma postura impecável, e olhos escondidos por trás de capacetes. Mãos escondidas por trás de cacetetes. Discursos escondidos por detrás de surras e pancadaria. Aqueles homens, eles estavam todos fantasiados, e dentro destas fantasias, esqueciam - esqueciam que eram gente. Esqueciam que batiam em gente. Porque ali o mundo deixava de ser mundo, e virava campo de batalha. E eles passavam a ser soldados. Alguém mandou, alguém os mandou bater. E bater era um trabalho. O trabalho era a veemência, o martelo era a coacção.

Conosco, perdidos no meio desta terra toda, estavam pintados os nossos. Com flechas e arcos, com sangue nos olhos. Neste dia, vi de longe o Santxiê, de passos apressados, seus olhos corriam de um lado pro outro. Parei-me um pouco nesta luta, peguei a minha câmera e me aproximei.

Cheguei mais perto, enquadrei-lhe em meu olhar, e fotografei sua tristeza. Ao seu passo corrido, o segui, e fotografei o seu silêncio. Olhou para mim. Parou e deparou-se com as minhas lentes. E foi então, foi neste momento que consegui fotografar a raiva. A raiva o carregava, carregava-lo nas costas, e o derrubava seguidamente.

Encantada com aquelas imagens e indignada com estas imagens, percebi-me ali, no meio de um faroeste, com pioneiros em um canto, cowboys em outro, todos caboclos, armados de irracionalidade. No meio deste deserto, estávamos todos nós, desarmados, tentando lutar para não morrer de sede, com a voz seca e um nó na garganta, tentando fazer escutar a nossa palavra. Em nossa volta, aqueles homens todos, sendo mandados por outros Homens todos, que são mandados por alguns papéis verdes.

Por alguns papéis verdes. Impressão tosca. Brutalidade rude. Massacre emocional. Irracional. Ou tão bem pensado. No meio daquela guerra, eu vi que o Homem realmente não tem soberania. Não tem soberania nem pra ser um pouco mais Homem. Não tem soberania nenhuma pra ser um pouco, apenas um pouco mais mulher.

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