terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Palavras menos Palavras

Queria saber escrever palavras. Queria mesmo. Palavras menos palavras. Palavras menos poéticas. Menos sentimento. Mais métrica. Para que voce entendesse, letra por letra, o que quero dizer, sem floreios. Não consigo. Tentei, tentei durante algumas horas. Sentei-me cá, há algum tempo. Escrevo. Apago. Levanto-me. Pego um cigarro. Reescrevo. E rasuro. Preparo um café. Perambulo pela casa. Escuto uma música. Eu realmente nao consigo. Eu realmente nao quero. A verdade é que te vejo, crua e nua, e ainda assim voce é toda enfeitada, toda palavras. Tuas curvas, tuas ideias, tua arte: tu és toda assim, poética.

Passou-se muita coisa, e eu me lembro de muito pouco. Tu costumava dizer que nao é que eu tinha uma memória ruim, mas simplesmente que eu era esperto. Esperto a ponto de esquecer-me de tudo que nao me interessava. E assim o era, talvez. Lembro do teu batom vermelho, ao mexer-se por cima, falando de Mahler, Tchaikovsky, Mozart e outras notas musicais. Lembro-me do teu gozo ao citar Vinícius, ao cantar Noel, a tocar Tom. Te lembro aos poucos, o teu cheiro, os teus dedos, teus anseios que eu nunca cheguei a entender, e em todo momento cheguei a aceitar.

Passou-se tanto tempo, e parece-me ainda que o nosso amor foi em outra vida. Hoje moramos um ao lado do outro, mas a centenas de metros de sentidos, e uma infinitude de espaço de palavras. Não nos falamos. E talvez por isto eu esteja ainda perdido com estas poucas palavras. Eu não sei o que dizer. Quero, apenas, que você me sinta. Não quero satisfações. Não quero discussões. Não quero conversar sobre o que aconteceu. Aconteceu. E as pessoas erram. Eu, você, e todos eles que a gente sempre criticou. Eu quero apenas que você pare, e me sinta. E destrua o monstro que você criou em você de mim. Tire todos os pesos da gente, e deixe que sejamos apenas nós. Nos deixe em silêncio. Nos deixe sentir-nos, ainda que 'a distância. E falemos, se precisarmos, falemos besteiras, não seriedades. A vida é importante demais pra ser levada 'a sério. Mas falemos, ainda que em silêncio. Pois eu ainda tenho muito a falar.

E te peço apenas que não me cale. Mas também não precisa me escutar.

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