quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tua presença

E ao entrar em minha casa, sozinho, fechei a porta atrás de mim e, em poucos segundos, deixei-me nu. Sem calças ou calçados, restava-me apenas aquele relógio que eu não ousava tirar - talvez por dó ou por solidão. Liguei a vitrola, que vibrava com a voz de Aretha Franklin, acompanhada de um sax que puxava-me os pêlos da nuca. Sempre fui assim, muito sensível ao não-toque. Mas não era isso que eu queria hoje.
Entrei em meu quarto e liguei a televisão. Deitei-me na cama, a escutar aquelas vozes tantas, Notícias de hoje, Garotinho se lança a deputado federal - puta que o pariu -, Naomi pode depor contra ex-presidente - quem diabos é Naomi -, presos deixam de comer para doar alimentos - que digno. Desligo a televisão. Notícias suficientemente inúteis para o dia. O telefone toca. Deixo tocar. Bip. Pedro, me liga, tô precisando falar com você urgentemente. Bip. Meu bem, vamos combinar mais vezes de ir ao teatro, sinto falta de nossas programações culturais. Bip. Quero sexo, e aí?

Bip.

Essa noite, verei "La dolce vita".
E não será sozinho, pois, quando necessário, continuo inventando a tua presença.

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